Cai registro de doadores de medula óssea no ES

Em uma das recorrentes idas ao Centro de Hemoterapia e Hematologia do Espírito Santo (Hemoes), a publicitária Flávia Bicalho se viu impedida de doar sangue por estar tomando uma determinada medicação. Ela já estava deixando o local quando foi abordada. “O segurança do Hemoes me viu indo embora e perguntou se não iria doar naquele dia. Contei para ele que não poderia e ele me sugeriu aproveitar que já estava lá e me cadastrar para doar medula. Fui me informar e me cadastrei.”

A simples ação de Flávia naquele dia salvou uma vida. “Um ano depois, me chamaram para fazer a doação. O procedimento foi muito tranquilo, não senti dor alguma. Fiz lá em Belo Horizonte. Fiquei apenas três dias no hospital. No dia em que tive alta, fui até passear pela cidade”, conta.

Depois da alegria de poder ajudar, a felicidade só aumentou. Flávia pôde ter notícias da receptora. “Quando soube que ela estava bem, fiquei super feliz.” Mas foi preciso esperar um ano e meio para poder conhecer a paciente, que também queria conhecer a doadora. “Doei para a Luana de Oliveira em 2016, quando ela tinha 12 anos. Fui conhecer a família dela no Pará e ela também veio me visitar. Até comemoramos juntas aqui o aniversário de 15 anos dela”, recorda.

Um final feliz para Luana, que havia sido diagnosticada com leucemia. Assim como ela, pacientes com produção anormal de células sanguíneas, geralmente causada por algum tipo de câncer no sangue, precisam do transplante de medula óssea. O tratamento é indicado para cerca de 80 doenças em diferentes estágios e faixas etárias.



Compatibilidade

A medula óssea é um tecido líquido-gelatinoso encontrado no interior dos ossos. Nela são produzidos os componentes do sangue: as hemácias, as plaquetas e os leucócitos.

Mas conseguir uma medula compatível pode ser um desafio. A dificuldade começa para encontrar um doador compatível entre irmãos, filhos de mesmo pai e mesma mãe. A chance é estimada em 25%. Quando não há compatibilidade na família, a solução é recorrer ao banco de medula.
Já a chance de identificar um doador compatível, no Brasil, na fase preliminar da busca é de até 88%. Ao final do processo, 64% dos pacientes têm um doador confirmado. As estatísticas são do Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome).

O banco nacional de doadores é o terceiro maior do mundo. Já são mais de 5,5 milhões de pessoas cadastradas. O registro brasileiro foi o que mais cresceu na última década. Entretanto, no Espírito Santo, os registros de potenciais doadores vêm caindo. Em 2019, foram 11.512. Em 2020, 10.013. No ano seguinte, o número caiu para 5.721. Este ano, o estado cadastrou apenas 1.730 novos doadores de medula. Com o objetivo de incentivar o cadastramento e a doação, o Espírito Santo criou a campanha Agosto Vermelho.

Atualmente, a busca por doadores para pacientes brasileiros é realizada simultaneamente no Brasil e no exterior. Os bancos internacionais também acessam os dados dos candidatos a doadores a partir de sistemas especializados.

Cadastro de doador


De acordo com a Secretaria de Saúde do Espírito Santo (Sesa), o primeiro passo é procurar um dos locais de cadastramento de doadores de medula óssea no estado (veja lista ao final da matéria) portando um documento oficial com foto. Não há necessidade de agendamento prévio. O doador também não precisa estar em jejum e nem interromper medicação que porventura esteja tomando.

O candidato a doador deve ter de 18 a 34 anos, 11 meses e 29 dias; ter boa saúde e não apresentar doenças infecciosas, hematológicas, oncológicas ou doenças autoimunes.
Após o cadastro no Redome, o voluntário será encaminhado para a coleta de 5ml de sangue para realização de teste de compatibilidade genética, o HLA (Antígenos Leucocitários Humanos). O tipo de HLA será cadastrado no sistema.

A Sesa ressalta que é imprescindível atualizar o cadastro no site do Redome em caso de mudança de endereço, telefone ou e-mail para que – em caso de compatibilidade – o doador possa ser localizado para exames complementares e para realizar a doação propriamente dita.
O voluntário assinará um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, e receberá uma cópia, constando seu nome e o número do registro no Redome. Também será enviada automaticamente a Carteira Nacional de Doador de Medula Óssea no e-mail cadastrado pelo voluntário, em até 90 dias.

Caso seja necessário viajar para fazer a doação da medula óssea, as despesas da viagem, transporte, alimentação e hospedagem para o doador e seu acompanhante serão custeadas pelo Ministério da Saúde, por meio da Sesa.

O exame de compatibilidade entre doador e potencial receptor é específico para transplante. Como não tem nenhuma utilidade diferente ao doador, o Hemoes não expede laudo ou resultado.

Procedimento de doação



A doação de medula é um procedimento que pode se realizar de duas formas distintas.
A primeira se faz em centro cirúrgico, sob anestesia peridural ou geral, e requer internação de 24 horas. A medula é retirada do interior de ossos da bacia, por meio de punções. O procedimento leva em torno de 90 minutos. Nos primeiros três dias após a doação pode haver desconforto no local da punção.

Normalmente, os doadores retornam às suas atividades habituais depois da primeira semana após a doação. Vale destacar que a medula óssea do doador se recompõe em apenas 15 dias.

A outra forma é a coleta por aférese, um procedimento semelhante à coleta de sangue. Neste caso, o doador faz uso de uma medicação por cinco dias com vistas a aumentar o número de células-tronco no seu sangue. Após esse período, a pessoa faz a doação por meio de uma máquina de aférese, que colhe o sangue da veia do doador, separa as células-tronco e devolve os elementos do sangue que não são necessários para o paciente. Não há necessidade de internação ou anestesia.
Já no transplante ocorre a substituição de uma medula óssea doente por células sadias, com o objetivo de reconstituição de uma nova medula. Em aproximadamente duas semanas, a medula óssea transplantada estará produzindo células novas.
Quem define qual dos métodos de doação – tanto do paciente quanto do doador – será realizado são os médicos assistentes caso a caso. Nem doador e nem receptor podem escolher o método.

Segundo da Sesa, transplantes de medula óssea são realizados no Hospital Santa Rita nas modalidades de transplante autólogo (o doador é o próprio paciente) e transplante alogênico aparentado (o doador é um familiar com uma composição geneticamente semelhante). No estado, ainda não são realizados transplantes de doador não aparentado.

Locais de cadastramento de doadores de medula óssea
 

Hemocentro do Estado do Espírito Santo (Hemoes)
Telefone: (27) 3636-7900/7920/7921
Endereço: Avenida Marechal Campos, 1.468, Maruípe, Vitória. Funciona todos os dias, das 07 às 19 horas (cadastro de doador de sangue e medula óssea encerra às 18h20).
 

Unidade de Coleta à Distância da Serra
Telefone: (27) 3218-9429/ 3218-9242
Endereço: Avenida Eudes Scherrer Souza, s/n (anexo ao Hospital Estadual Dório Silva). Funciona de segunda-feira a sexta-feira, das 7 às 12 horas (cadastro de doador de sangue e medula óssea encerra às 11h30) e das 13h às 16h (cadastro de doador de sangue e medula óssea encerra às 15h20).
 

Hemocentro de Linhares
Telefone: (27) 3264-6000/ 3264-6019
Endereço: Avenida João Felipe Calmon, 1.305, Centro (ao lado do Hospital Rio Doce). Funciona de segunda a sexta-feira, das 7 às 16 horas (cadastro de doador de sangue e medula óssea encerra às 12h30).
 

Hemocentro Regional de Colatina
Telefone: (27) 3717-2801
Endereço: Rua Cassiano Castelo, s/n, Centro. Funciona de segunda a sexta-feira, das 07 às 16 horas (cadastro de doador de sangue e medula óssea encerra às 12h30).
 

Hemocentro Regional de São Mateus
Telefone: (27) 3767-7957
Endereço: Rodovia Otovarino Duarte Santos, Km 02, Parque Washington. Funciona de segunda a sexta-feira, das 7 às 16 horas (cadastro de doador encerra às 12h30).