Nas fases de discursos
dos deputados, o atentado às escolas de Aracruz também deu o tom da
sessão. Vários deputados utilizaram seu tempo na tribuna para prestar homenagem
às vítimas e trazer a discussão sobre o ataque a tiros em duas escolas,
uma pública e uma particular, em Coqueiral de Aracruz.
O deputado Sergio Majeski (PSDB), que é professor
e mestre em Educação, foi um dos que fizeram uma reflexão sobre o
atentado. Ele discursou por 25 minutos sobre o tema. “A educação é a causa
da minha vida. O choque para quem é da educação é maior”, iniciou.
Segundo Majeski, as soluções para o problema são
profundas: “Não é fácil de ser entendido. Não é só colocar detector de metal ou
guarda armado que vai resolver”, comentou.
Para ele, uma das questões que precisam ser
solucionadas é a presença de equipes multidisciplinares nas escolas. Ele, que
vem defendendo essa causa há muito tempo, usou como exemplo o agravamento das
doenças mentais no pós-pandemia.
“Depois da pandemia há ainda mais alunos com
depressão, síndrome do pânico, ansiedade. Há muito tempo que escolas, professores
e alunos estão clamando por socorro. Um apoio e um socorro que não chegam”,
disse.
Ataques
aos professores
Um dos principais pontos do discurso do deputado
tucano foi o ataque direto aos professores. Na Escola Estadual Primo Bitti,
três professoras foram assassinadas. “Ele se dirigiu imediatamente para a sala
dos professores. Para quem é professor, a sala dos professores é uma espécie de
refúgio. É um momento de respirar, trocar uma ideia com os colegas, tomar um
cafezinho, rir um pouco, fazer uma ligação (…). Eu nem imagino a situação que
é você estar naquele momento de repouso e entrar um assassino armado”,
comentou.
Majeski ressaltou que, nos últimos anos, as
escolas e professores vêm sendo atacados. “É um tal de acusar escolas de ideologizar
alunos, de sexualizar alunos, de que professores são comunistas. Chegaram a
inventar que nas escolas estão sendo distribuídos kits gay”, disse.
“Enquanto muita gente fica gritando que os
professores são comunistas, não sabem o que seus filhos estão fazendo dentro de
seus quartos. Não é na escola que adolescente está tendo acesso à arma de fogo
e aprendendo a atirar. Não é nas escolas que estão aprendendo a admirar
movimentos nazistas e neonazistas”, criticou o parlamentar.
“Em um mundo cada vez mais individualista, com
discursos cada vez mais radicais, a escolas têm insistido enormemente em um
trabalho de humanizar os alunos, de formar cidadãos, mas, com as reformas que
vêm por aí, as principais matérias que trabalham isso são retiradas dos currículos,
como história, sociologia, filosofia, artes”, apontou.
Saúde
mental
O deputado retomou a questão da saúde mental,
alegando que os professores percebem os problemas dos alunos, mas não têm o que
fazer. “Os professores detectam alunos com depressão, ansiedade, síndrome do
pânico. E o que eles podem fazer? Quase nada. Porque não existe política de
saúde mental adequada no país. Se um professor detecta que um aluno está com
problemas psicológicos para onde ele encaminha?”, questionou.
“No caso específico desse rapaz que cometeu essas
atrocidades em Aracruz, não é filho de uma família desestruturada. Ele tinha
saído da escola em julho. A educação no Brasil é obrigatória até os 17 anos.
Como ele teve acesso a armas? Com quem ele aprendeu a manusear armas? Quem o
ensinou a dirigir?”, perguntou Majeski.
Por fim, o deputado fez um apelo ao governo do
Estado para que encerre o ano letivo o mais rápido possível. “Não há nesse
estado um único professor que não esteja abalado”, salientou.
Valores
humanos
O deputado Bruno Lamas (PSB) também discursou
sobre o atentado às escolas. Ele relatou um “luto profundo” diante das “cenas
fortes, dias difíceis e perdas enormes.”
Ele ressaltou o fato de o adolescente que cometeu
os assassinatos estar trajando uma roupa com símbolo nazista. “Essa mão
tem muitos dedos, o dedo do silêncio, o dedo da omissão. O símbolo de uma
ideologia. Ideologia essa que o pai admirava. Pai que tinha uma arma em casa.
Filho que tinha abandonado a escola com a concordância dos seus pais”, comentou
Lamas.
Leis
mais duras
Vários deputados falaram, ainda, sobre a
necessidade de se rever a legislação penal no Brasil. Para o Delegado Danilo
Bahiense (PL), os ataques em Aracruz reacendem o debate sobre a redução da
maioridade penal para crimes hediondos. Já para Freitas (PSB), é necessário
debater sobre a previsão de prisão perpétua no Brasil.
“A gente não imagina que isso vai acontecer no
nosso estado, no nosso município, na nossa escola. É um menino de 16 anos. Mas
é um menino com todo preparo para manusear armas de diferentes calibres. E é
claro que teve preparo para isso. Não é a primeira vez que isso acontece no
nosso país. É preciso estabelecer previsão de punição severa. Por que o país
não pode discutir prisão perpétua?”, questionou Freitas.
Por sua vez, Capitão Assumção (PL) disse que há
uma grande falha de segurança nas escolas. “Como se entra em uma escola sem ter
um vigilante para ser a primeira barreira? As falhas são gritantes. As
irresponsabilidades são enormes. A segurança no ambiente escolar tem que ser
total”, alertou.
Chuvas
Os deputados também comentaram sobre as fortes
chuvas que atingem o estado e as suas consequências. Majeski pediu a atenção da
população aos sinais de deslizamento, como as rachaduras nas paredes, a queda
de muros e de árvores.
Torino Marques (PTB) falou sobre a estrada da
Rota do Carmo, rota turística de Pedra Azul, em Domingos Martins, que sofre com
as fortes chuvas. Ele também alertou para a situação de Guriri, em São Mateus.
Freitas também destacou os reflexos das chuvas em
Guriri. Ele abordou ainda os danos nas rodovias e a necessidade de os
produtores rurais esvaziarem suas represas para evitar rompimentos e grandes
desastres.