O aumento da incidência de câncer colorretal, ou câncer de intestino, foi o tema da reunião da Comissão de Saúde na terça-feira (21). A médica Roseane Bicalho alertou para o crescimento dos casos entre as pessoas com menos de 50 anos.
Dados apresentados pela gastroenterologista demonstram que houve aumento de 203% na mortalidade por esse tipo de câncer na faixa etária de 40 a 49 anos entre 1990 e 2017. Na faixa dos 50 aos 59 anos, o aumento foi de 65% no mesmo período.
Estudo feito pela Sociedade Americana contra o Câncer (American Cancer Society) apontou que houve crescimento de 51% em novos casos de câncer de intestino em pessoas com menos de 55 anos (de 1994 a 2014). Os pacientes com menos de 50 já correspondem a mais de 10% do total de casos.
Outro estudo norte-americano demonstrou que indivíduos nascidos em 1990 têm risco duas vezes maior de desenvolver câncer de cólon e quatro vezes maior de ter câncer de reto em comparação aos nascidos em 1950.
A recomendação, segundo a gastroenterologista, é o início do rastreio a partir dos 45 anos, com a realização de exame de sangue oculto nas fezes anualmente e de colonoscopia a cada cinco anos, preferencialmente.
Brasil e ES
No Brasil, a incidência de câncer colorretal aumentou quase 80% desde 2006. A Região Sudeste responde por metade do número de casos e, entre as capitais, há tendência de maior crescimento da taxa de mortalidade em São Paulo e em Vitória.
O câncer colorretal já é o terceiro mais incidente no Brasil, atrás apenas do câncer de pele não melanoma e de mama nas mulheres e próstata nos homens. Neste mês, é realizada a campanha mundial Março Azul de prevenção a esse tipo de câncer.
A gastroenterologista Maria da Penha Zago também participou da reunião. A médica contou que foi diagnosticada com câncer de intestino há cinco anos em uma colonoscopia. Em menos de dois meses, ela foi operada e voltou às suas atividades laborais. O tratamento foi feito pelo sistema privado de saúde.
Este foi o pedido feito pelas duas profissionais que participaram do encontro: o investimento em prevenção e diagnóstico precoce da doença, com a realização do rastreio e de exames especializados pela rede pública de saúde.
“Minha luta é que todos os capixabas tenham esse direito”, defendeu Maria da Penha Zago. “Nós temos profissionais no Espírito Santo capacitados para fazerem isso. Temos vários hospitais em todo o estado que podem ser centros de referência. Podemos ter, se houver uma decisão política para isso. É necessário que a Secretaria de Saúde entenda que vidas precisam ser salvas. É um dos mais importantes cânceres da humanidade”, disse.
Comissão
Os deputados Dr. Bruno Resende (União/ES), Hudson Leal (Republicanos/ES) e Callegari (PL/ES) participaram do encontro. Leal e Callegari criticaram o modelo de contratualização com o SUS e a falta de prestadores de serviços em saúde na rede pública.
Hudson também falou sobre a necessidade de descentralização dos serviços. No caso de um exame como a colonoscopia, que precisa de preparo para a realização, não é viável que o paciente tenha que se deslocar do interior para a Grande Vitória para fazer o exame, segundo o deputado.
O presidente do colegiado, Dr. Bruno Resende, afirmou que o Estado está passando por uma reformulação da rede e por mudanças nas contratualizações, as quais ele considera um avanço. Mas, de acordo com o parlamentar, é fato que ainda há déficit na oferta dos serviços de colonoscopia e de endoscopia de forma geral pelo sistema público de saúde.
A comissão realizará audiência pública de prestação de contas com o secretário de Estado da Saúde, Miguel Paulo Duarte Neto, no próximo dia 31. O colegiado também aguarda reunião com os superintendentes regionais de saúde para discutirem esse e outros temas.