Areia preta em Camburi não vem do porto, dizem Vale e Iema

21-06-2020 – Afolhaonline

Os resíduos escuros encontrados recentemente na areia da Praia de Camburi, seriam de origem natural, semelhante ao minério encontrado nas areias monazíticas. As informações foram dadas pelo especialista de meio ambiente da mineradora Vale, Romildo Fracalossi, e confirmadas pelo Agente de Desenvolvimento Ambiental do Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema), Fernando Corleto. Eles participaram da reunião virtual da Comissão de Meio Ambiente, na tarde da sexta-feira (19).

Segundo Fracalossi, estudos realizados pela empresa demonstram que as características químicas, a granulometria e a forma dos grãos da areia preta descoberta nas praias de Vitória, apresentam propriedades distintas do minério manuseado pela Vale.

O especialista em meio ambiente afirmou que o surgimento dessa areia de coloração escura em Camburi é recorrente, e que existem comprovações em documentos oficiais de seu aparecimento desde 1910, época em que as empresas de mineração ainda nem atuavam no Estado.

“Os resultados da caracterização das amostras de areia indicam a presença de minerais comumente presentes em areias monazíticas, que foram: quartzo, monazita, zirconita e ilmenita. O principal minério que contribui para a coloração escura das areias da Curva da Jurema e Camburi é a ilmenita, que não faz parte do minério manuseado pela Vale”, ressaltou Romildo.

Fracalossi também esclareceu que a recorrência do fenômeno conhecido como “areia preta”, está associado a outro acontecimento natural. “Em período de ressaca do mar, as ondas têm forças suficientes para carregar os metais mais pesados, trazendo-os para areia. O que pode deixá-las com a coloração mais escura”.
O Agente de Desenvolvimento Ambiental do Iema, Fernando Corleto, explicou que o Instituto acompanha o fenômeno desde 2008 e que as análises das substâncias comprovam que o material encontrado realmente tem mais semelhança com as areias monazíticas de Guarapari.

“O Iema faz a coleta do material e encaminha as areias para o laboratório de Alta Pressão da Ufes. O material vai sem identificação justamente para que não seja tendencioso. Vários estudos comprovam que a composição química desses grãos é distinta do minério trabalhado na Vale”, reforçou.

Questionado pelo Colegiado, Fernando Corleto também destacou que os resíduos encontrados no extremo norte de Camburi, por conta de despejos na década de 70, são elementos pesados e, portanto, não se movimentam e não provocam risco de contaminação de outros pontos da praia.

O presidente da ONG Juntos SOS ES Ambiental, Eraylton Moreschi, sugeriu a contratação de uma empresa independente para avaliar a areia preta. 

“Sugiro que uma empresa idônea de reconhecimento nacional faça o laudo e apresente o relatório para os órgãos competentes. Desconfio desses resultados. Após fortes chuvas as praias aparecem com mais manchas pretas, acredito que grande quantidade de material cai dos píeres dos transportadores”, pediu Moreschi.

TCA

O gerente de Meio Ambiente da Vale também apresentou o Termo de Compromisso Ambiental (TCA) 2019/2023 e mostrou as metas e os planos de ações da empresa, com intuito de reduzir a emissão de poeira no ar e na água.

Entre as tecnologias e equipamentos instalados pela mineradora estão: lavador de rodas nos pátios, pavimentação de vias e áreas, enclausuramento das correias transportadoras de minério de carvão, enclausuramento dos viradores de vagões e instalação dos canhões de névoa no pátio de pelotas das usinas. Fracalossi ressaltou que a meta da empresa é de reduzir em 93% a emissão de poeiras de fontes difusa.

O deputado Marcos Garcia (PV) reconheceu os esforços e investimentos feitos pela mineradora, mas criticou os resultados. “Os efeitos ainda estão lentos. A Vale precisa ser mais atuante. Ainda encontramos muita poeira industrial nas residências capixabas”, lamentou o parlamentar.

Questionado pelos deputados sobre possível descumprimento de prazos estabelecidos nos TCAs, Romildo Fracalossi atribuiu alguns atrasos às dificuldades de operação decorrentes da pandemia, alegando que vários contratos foram suspensos em respeito às normas de isolamento e distanciamento social.

O deputado Gandini (Cidadania) demonstrou surpresa diante dos argumentos apresentados, já que tem observado um trabalho contínuo da empresa, mesmo durante o período de quarentena.

O presidente do colegiado, deputado Dr. Rafael Favatto (Patriota), criticou novamente a adoção dos TCA, que dificultaria punição à empresa, e defendeu que sejam adotados pelo Estado os Termos de Ajustamento de Conduta (TAC). Fonte e foto ales do es.