Deficiência auditiva: direitos de alunos em debate

A rede pública de ensino não está preparada para atender adequadamente alunos com todos os tipos de deficiência auditiva. Esta é a constatação de pais, alunos, especialistas e entidades que representam as pessoas com problemas de audição. Eles se reuniram com a Comissão de Proteção à Criança e ao Adolescente, no Plenário Judith Leão Castello Ribeiro, nesta terça-feira (17).

Os convidados abordaram a luta dos oralizados (pessoas que utilizam o implante coclear; um dispositivo eletrônico parcialmente implantado por meio de cirurgia) e reivindicaram os mesmos direitos que os sinalizados (que se comunicam pela Língua Brasileira de Sinais – Libras).

Segundo eles, os oralizados sofrem com a carência de profissionais capacitados para atender quem ainda não domina a linguagem sinalizada e reivindicaram políticas para alunos que utilizam o implante nas escolas públicas – com metodologias que vão além do ensino de Libras que não atendem toda a comunidade surda.

Família e escola

A presidente da Associação de Pais e Amigos dos Surdos e Outras Deficiências (Apasod), Antônia Lourdilene dos Santos Mozer, mãe de uma moça com o implante, relatou a dificuldade que os alunos implantados encontram nas salas de aulas. Conforme disse, a criança oralizada que estuda em escola pública sofre por não conseguir aprender da mesma maneira que um aluno sinalizado e que a maioria dos professores não sabe lidar com essa situação.

“As escolas têm professores de Libras, mas não têm professores preparados para lidar com alunos que implantaram o equipamento. São crianças que precisam usar o Sistema Modulado de Frequência (SMF) em conjunto com o profissional que, na maioria das vezes, não quer ou não é preparado para utilizar o equipamento. Com isso, a criança é obrigada a aprender a língua de sinais, o que atrasa seu aprendizado e nem sempre alcança o objetivo que é a fluência na comunicação”, afirmou.

O SMF, revelou, é distribuído pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas não é usado nas instituições de ensino. “Fiz uma pesquisa e descobri que em 2013 o Ministério da Saúde doou 300 unidades para o Espírito Santo, mas segundo informações da própria Secretaria de Estado da Educação (Sedu), os aparelhos foram entregues, mas não foi ofertada capacitação para famílias e professores para utilizá-lo”, declarou Antônia Lourdilene.

Inclusão social e mercado de trabalho

Estudante de Biomedicina, Henrique Muniz Mendes, de 18 anos, é implantado desde os dois anos. Para ele, um usuário do implante coclear tem vida normal e consegue se inserir na sociedade e no mercado de trabalho. “Meu desejo é que todas as pessoas com perda de audição possam conseguir falar. Falar é algo fascinante”, concluiu.

Almir Lopes, que também é implantado, conseguiu ser inserido no mercado de trabalho. Ele é professor de educação física de uma escola de Vitória. Ex-aluno de escola pública, relatou a carência de profissionais capacitados para esse público.

“Professor de Libras não consegue atender aluno oralizado. É angustiante não entender uma aula que está sendo dada em um idioma que não se entende. As escolas estão despreparadas e precisamos de ajuda para mudar essa realidade”, relatou.

Conforme Simone Muniz Mendes, mãe do estudante de Biomedicina Henrique, o acompanhamento com terapias, além de exames e manutenção do equipamento, é fundamental. Tudo isso, afirmou, é contemplado pelo SUS. “Não basta apenas operar, são várias fases a serem cumpridas e a rede pública dá todo esse suporte ao implantado”.

Implante coclear

O implante coclear é indicado para perda severa de audição e não é aplicado em todos os casos. Segundo o médico otorrinolaringologista Giuliano Lucchi, algumas crianças nascem com perda do nervo auditivo, o que impossibilita a colocação do aparelho.

Ele afirma que é importante que a perda auditiva seja detectada o quanto antes, de preferência até os seis meses de vida, para que a criança seja tratada e acompanhada adequadamente desde cedo.

Lucchi explica que o implante coclear é benéfico pela alta qualidade de audição proporcionada, o que melhora a fala, mas é fundamental que a inserção do aparelho seja feita ainda na primeira infância. “Quanto mais cedo a cirurgia for realizada, melhor a resposta do implante e mais cedo a criança vai falar bem e conseguir se inserir na sociedade. Se a família esperar a criança crescer para decidir se quer ser oralizada ou sinalizada, as dificuldades para desenvolver ou aprimorar a fala serão bem maiores”.

O presidente da comissão, deputado Delegado Lorenzo Pazolini, afirmou que vai continuar lutando por melhorias das pessoas com deficiência. “As reivindicações das pessoas com perdas auditivas têm sido ouvidas por outras comissões da Casa e vamos estudar a melhor forma de atender e ajudar essas pessoas”, salientou.

Fonte ales