Estudo avalia efeitos do pó preto nas células pulmonares

15-11-2020 – Afolhaonline.com

A Comissão de Meio Ambiente conheceu mais detalhes sobre pesquisa que avalia os efeitos, no corpo humano e em animais aquáticos, da contaminação por metais provenientes de material particulado atmosférico, conhecido como pó preto, emitido por mineradoras localizadas no estado. Conduzida pelo presidente do colegiado, deputado Dr. Rafael Favatto (Patri), a reunião aconteceu em plataforma virtual nesta quarta-feira (04).

De acordo com a bióloga capixaba e doutora em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Iara da Costa Souza, o objetivo principal da pesquisa é avaliar os impactos dos poluentes metálicos que penetram nas células do pulmão. Ela explicou que uma vez que o material entra em contato com a célula pode haver a quebra do DNA, impedindo a reação natural do sistema de defesa do organismo, podendo ser um potencial cancerígeno.

Outra linha de análise do estudo é avaliar os impactos do pó preto nos organismos dos peixes e outros animais aquáticos e como isso pode afetar diretamente a saúde das pessoas que consomem o pescado contaminado.
“As pesquisas comprovam que as partículas poluentes do pó preto, quando saem das fábricas e entram em contato com a água, se dissolvem e se transformam em nanopartículas metálicas. Por ficarem em tamanhos muito reduzidos elas são absorvidas pelas células e podem causar danos irreversíveis para os pulmões”, explicou Iara da Costa Souza.

Legislação

A pesquisadora também ressaltou que as atuais legislações delimitam a quantidade de partículas de poeira atmosférica à qual as pessoas podem se expor, no entanto, são omissas em relação à quantidade de partículas dispersas no ambiente aquoso. Para Iara, as legislações deveriam observar as particularidades de cada lugar, como a Grande Vitória, que possui um clima úmido.

“Em locais úmidos, as partículas poluentes podem ficar bem menores e mais facilmente absorvidas em contato com o muco nasal, que tende a ser mais aquoso por conta do clima úmido”, destacou.

Para o ambientalista Eraylton Moreschi, da ONG Juntos SOS – ES Ambiental, o Estado deve fazer uma avaliação mais sistematizada sobre os limites permitidos dos poluentes atmosféricos. “O pó preto não deve mais ser considerado apenas uma sujeira. É um problema sério sendo definido como material cancerígeno. É necessário fazer uma avaliação maior dos limites do pó preto no estado. Por isso estamos atentos com o Projeto de Lei 328/2020, que define os padrões de qualidade do ar”, lembrou Moreschi.

O diretor técnico do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), Elias Alberto Morgan, concordou que a poeira sedimentável é diferente de um local para outro e ressaltou a necessidade de considerar as características locais, como umidade e vento, ao determinar os padrões conforme as necessidades dos capixabas.

Estudo internacional

A pesquisa intitulada “Material Particulado Atmosférico e Contaminação Ambiental: Avaliação do Impacto na Biota Aquática em uma abordagem Ecofisiotoxicológica Integrada” é coordenada pela professora Dra. Marisa Narciso Fernandes, do Departamento de Ciências Fisiológicas da UFSCar, e tem prazo para conclusão de cinco anos.

O estudo conta também com parcerias internacionais, como as Universidades de Hull e de Birminghan, do Reino Unido, Universidade da Austrália Ocidental e Universidade de Montpellier, da França. 

Fonte e foto ales.