Fã de Ulysses Guimarães e filho do
ex-prefeito de Cariacica Aloízio Santos, Marcelo Santos (Podemos/ES), 52 anos,
é o novo presidente da Assembleia Legislativa (Ales). No comando do Palácio
Domingos Martins ele quer abrir um diálogo com o governo federal para mostrar que
atualmente o Espírito Santo entrega muitos recursos para a União, mas recebe
poucos de volta.
“Queremos que a União nos enxergue não só pela
relação política, mas pelo que contribuímos, e nos devolva isso. Não é pecado o
Espírito Santo estar organizado financeira e administrativamente. Fizemos o
dever de casa, cortamos na própria carne, no Orçamento dos Poderes e
conseguimos ultrapassar as crises que todo o país e o mundo enfrentaram. Não
podemos pagar a conta de quem não soube administrar o recurso do Estado, como
Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e outros”, ressalta.
Para começar esse trabalho, o parlamentar
pretende se reunir com o futuro líder da bancada federal do Espírito Santo,
apresentar os números e dialogar diretamente com os representantes da União.
Como exemplos de gargalos federais no Espírito Santo que já deveriam ter sido
resolvidos, ele cita a duplicação das BRs 101 e 262 e o próprio Contorno do
Mestre Álvaro, que deve ser concluído no final desse ano com recursos das
emendas da bancada.
Outro desafio mencionado pelo presidente é a
necessidade de “distensionar” o ambiente político. “Acho que grande parte da
população está dividida, e isso é normal, mas está dividida e raivosa. Essa
tensão tem que acabar ou pelo menos diminuir, arrefecer. Esse é o papel de um
líder da Assembleia e do governador”, salienta.
Relação com o Executivo e os
colegas
Marcelo vai para o seu sexto mandato consecutivo
como deputado estadual ao receber 41.627 votos. Na eleição esteve ao lado do
governador reeleito Renato Casagrande (PSB), de quem também recebeu apoio para
ocupar a presidência da Ales. Apesar disso, ele reforça que a relação com o
Executivo será de harmonia e independência.
O presidente assegura que vai tratar todos os
parlamentares com igualdade, seja da situação ou oposição, garantindo a eles o
desenvolvimento dos respectivos mandatos. “A única coisa que não podemos
permitir, e isso aconteceu no país, é quando se sai das quatros linhas e não se
respeitam as instituições e as pessoas. Dentro da linha do respeito o
parlamentar pode atuar aqui na Assembleia e vai ter o meu apoio”, enfatiza.
Mesmo com uma renovação de mais de 50% das
cadeiras do Poder Legislativo estadual, ele não acredita que Casagrande possa
encontrar alguma dificuldade na relação com a Casa. “O governador é um
democrata e, além de tudo, é um estadista. Renato sabe lidar com as diferenças
e é isso que talvez muita gente precise aprender”, frisa.
Conhecido pelos colegas pelo seu bom humor,
Marcelo diz que essa é uma característica sua difícil de mudar, mas que atuando
como presidente tem uma responsabilidade ainda maior junto aos colegas. Eleito
com 27 votos de 30, ele explica que o processo de construção do nome dele como
presidente envolveu muito respeito às diferentes opiniões dos deputados e que a
eleição da Mesa Diretora respeitou a pluralidade do Parlamento.
“Vamos valorizar o parlamentar. Se nessa gestão
eu conseguir fazer o que estamos planejando, de potencializar, principalmente,
as comissões, dando condições da Comunicação da Casa de acompanhar o trabalho
delas, dando condições de que elas tenham perna de estar onde precisam estar,
nós vamos conseguir mostrar essa coisa bacana que é a atividade parlamentar”,
conta.
Planos para a Assembleia
Nos últimos seis anos Marcelo esteve como
vice-presidente da Ales e contribuiu com o ex-presidente Erick Musso
(Republicanos) e os demais parlamentares para trazer para a Assembleia a oferta
de serviços para a população, como o Posto de Identificação Civil, o Procon, a
Delegacia do Consumidor e a Procuradoria da Mulher.
Também liderou pessoalmente projetos importantes
como o Ales Digital e o Revisa Ales, que culminaram com a digitalização de
procedimentos e a revisão de legislações antigas, gerando uma economia de R$ 12
milhões para os cofres públicos. “Fomos pioneiros. Somos um dos estados com a
maior segurança jurídica do país por conta dessa revisão de normas. O Estado de
São Paulo que apresenta a maior quantidade de lixo legislativo copiou da gente
e está seguindo o que instituímos aqui”, diz.
Segundo o presidente, já foi encomendado um
estudo para o retorno do restaurante da Ales e o desafio para o próximo biênio
é fazer mais ações voltadas para a sociedade capixaba. “Temos um limitador de
velocidade e queremos aumentar esse limite para a Assembleia chegar a lugares
mais longes e mais rápido”, pontua.
Em relação aos servidores do Legislativo,
adianta que vai trabalhar pela valorização de todos. “Não é só a questão
salarial, é tudo, local de trabalho, instrumentos, ferramentas e salário
também. Temos o Orçamento como um limitador, mas vamos trabalhar muito para
isso. Sou alguém que vai ajudar o servidor da Casa a fazer um serviço ainda
melhor, a se dedicar e a ter condições para fazer isso”, esclarece.
Carreira política
A carreira política de Marcelo começou como
vereador por Cariacica em 1996. Ele comenta que a entrada na vida pública foi
“por acaso” e que, apesar do pai ser uma referência para ele, não partiu de
Aloízio o incentivo para disputar a primeira eleição. “Eu ia apoiar um
candidato chamado Chiquinho da Padaria, lá em São Geraldo, antigo Morro da
Favela. Ele era famoso porque distribuía sacolinha de leite e pão que sobrava
para a molecada na rua. Na hora de registrar a candidatura ele não foi, eu
acabei entrando e foi meu primeiro mandato eletivo”, lembra.
Além do pai, outra grande inspiração para a
carreira de Marcelo é Ulysses Guimarães (1916-92), ex-presidente da Câmara dos
Deputados. Ele fala que desde muito jovem gostava de ler jornais para se manter
atualizado das notícias e que chegou a ler uma separata (conjunto de artigos
impressos publicados em jornal ou revista) de Ulysses. Um dia o político ligou
para a residência dele procurando por seu pai, mas foi ele quem atendeu o
telefonema.
“Eu me identifiquei como filho do Aloízio e ele
falou comigo. Eu fiquei numa emoção que você não tem noção. Fiquei muito mal
quando o helicóptero dele caiu e ele foi embora. Tem gente que é fã de cantor,
de jogador de futebol, mas meu ídolo era Ulysses Guimarães”, enaltece.
Ao final do mandato como vereador ele comunicou
ao pai que não iria buscar a reeleição porque pretendia concorrer a deputado
estadual dois anos depois. Os planos deram certo e Marcelo foi o terceiro
parlamentar mais votado na ocasião, em 2002, com 33.067 votos. Na sequência
foram mais cinco mandatos consecutivos. De acordo com ele, o segredo para se
manter competitivo ao longo dos anos é se reinventar, estar sempre bem
informado, atualizado e conectado com o que está ocorrendo no mundo.
Sexto mandato
A última vitória o novo presidente relata que
foi bastante desafiadora, porque acabou fazendo uma mudança de rota no
planejamento inicial. A ideia era se candidatar a deputado federal, mas Marcelo
quis concorrer a mais um mandato de deputado estadual com o objetivo de fazer
mais votos do que os mais de 33 mil conquistados na primeira eleição para o
cargo.
“Trabalhei para ter 35 mil votos, 2 mil votos a
mais que o primeiro mandato, que consegui com meu pai ainda na prefeitura.
Queria bater essa meta e consegui quase 42 mil votos. Nessa eleição as pessoas
optaram muito por quem era de viés de direita ou de esquerda, tanto partido
quanto ideologia. Eu fui Marcelo Santos, mostrei meus serviços, falei que
queria continuar na Assembleia. (…) Dos cinco deputados mais votados do
Espírito Santo eu sou único que não trabalhei com a bandeira de direita ou de
esquerda”, constata.
Ele agradece o reconhecimento da população
capixaba pelo trabalho dele, destaca que teve votos nos 78 municípios capixabas
e que a votação expressiva aumenta a responsabilidade. “Meu compromisso é
continuar trabalhando e com uma energia ainda maior, porque é isso que a
população espera de mim. Eu tento me aperfeiçoar a cada tempo para que possa
devolver com respostas rápidas o que eu sou demandado nas cidades, nas ruas,
pelas lideranças políticas, populares ou religiosas e pelo cidadão comum”,
ilustra.
Vida pessoal
Formado em Administração e Direito, Marcelo é
casado e nas horas de folga da política costuma ficar em casa e cozinhar para a
família, normalmente apreciando um bom vinho. Também gosta de preservar as
amizades que fez ao longo dos seus 52 anos. Costuma receber os amigos e gosta
de contar piadas e alguns “causos”, alguns verídicos, outros não.
Recentemente, uma decisão da Justiça o deixou
cheio de orgulho: finalmente conseguiu registrar na certidão de nascimento o
nome do pai adotivo Aloízio Santos, morto em 2007. Uma adoção chamada de post
mortem. “Eu era tutelado e a tutela vai até a maioridade. Hoje tenho, além da
minha mãe, que morreu no ato do meu nascimento, uma mãe socioafetiva e um pai
socioafetivo. Aloízio era meu pai, mas não tinha esse reconhecimento legal. Vai
constar na minha carteira de identidade o nome do meu pai, o que é uma honra
danada para mim”, comemora.
Recado para a população
Por fim, o novo presidente afirma que não vai
faltar disposição do Legislativo estadual para atender as demandas da
sociedade. Ele deixa um recado para o povo capixaba. “Podem confiar na
Assembleia. Por causa de um, dois ou três maus políticos não coloquem na vala
comum toda a classe. A Assembleia está aqui para atender os interesses da
população, garantir a democracia e trabalhar ao lado do governo do Estado em
tudo aquilo que for em prol da sociedade”, finaliza. Fonte e foto ales.