Kleber Galvêas

MILOME – MIL HOMEN –

Lutamos pelo que amamos e só amamos o que conhecemos. Quem for a um boteco tradicional e do balcão pedir o aperitivo mais amargo da prateleira, será servido com uma dose de “milome”. A bebida é uma imersão em cachaça da raiz do milome (Aristoloquia …)


Existem muitas variedades do cipó milome. Na Internet podem ser vistos com flores e folhas muito diferentes. Na maioria as folhas têm o formato de um coração.


Na restinga da Barra do Jucu, Vila Velha-ES, nós encontramos duas variedades dessa planta: “papo-de-peru e “jarrinha”. Ambas me foram apresentadas pelo Sr. Honório Amorim, caboclo de Tapuera, antigo maestro da nossa Banda de Congo. Eu as conservo plantadas em meu quintal.


Essa é uma planta mística. Até os anos 1970, os homens mais velhos da Barra se reuniam na madrugada da sexta-feira Santa e partiam, em comitiva, para o mato. No instante em que o sol despontava no horizonte, sobre o mar, a raiz do milome era colhida e depois repartida entre os participantes. Cada um preparava a “garrafada” em sua casa e uma dose diária da bebida era tomada ao longo do ano, com o propósito de “fechar o corpo” e dar potência.


A variedade do milome dita autêntica, por ter o formato de suas folhas sugerido o nome às demais plantas da espécie, era abundante no entorno da Barra do Jucu. As suas folhas têm a forma do órgão reprodutor masculino. Quando o cipó lastra sobre um arbusto ficam mil homens expostos.


Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com