Morreu na madrugada desta quinta-feira (14), em Vitória, o ex-governador Max Mauro. Ele estava internado há quase dois meses e a causa da morte foi insuficiência renal aguda. A Assembleia Legislativa (Ales) decretou luto oficial.
Além de comandar o Executivo estadual (1987-1991), Max foi prefeito de Vila Velha (1971-74), deputado estadual (1975-1979) e deputado federal por três vezes, em três décadas diferentes (1979-1983, 1983-1987, 1999-2003).
O presidente Marcelo Santos (União) lastimou a perda: “Lamento profundamente o falecimento do ex-deputado e ex-governador Max Mauro, deixando legado de sustentabilidade, infraestrutura e saneamento. (…). Ao Max Filho, ex-dep e ex-prefeito, nossas condolências”, disse o chefe do Legislativo em uma rede social.
Carreira política
Canela-verde (Vila Velha, 11 de março de 1937), Max de Freitas Mauro começou a viver a política capixaba ainda criança, acompanhando ações do pai político e sindicalista, o baiano Saturnino Rangel Mauro. Com apenas 10 anos, em 1947, foi para rua pedir que votassem no pai candidato a deputado constituinte. Jovem, foi cursar medicina em Salvador a partir de 1957, retornando formado em 1962, para dividir-se entre a atuação política e a carreira profissional.
Em 1970 foi eleito prefeito de Vila Velha pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Já em 1974 conquistou uma vaga de deputado estadual, cargo que ocupou até janeiro de 1979. O professor de História Amarildo Mendes Lemos, autor de dissertação de mestrado sobre a atuação de Max como deputado estadual, fala sobre a atuação do ex-parlamentar na Ales:
“Como deputado estadual ele vai se aproximar mais da esquerda do MDB fazendo oposição às lideranças que estavam dominando o partido no âmbito estadual e fazer uma oposição muito forte ao governo do Estado, o que vai cacifar ele como representante dos setores mais populares aqui do ES. Vai defender direito de greve, vai defender direito dos sindicatos se organizarem, justiça social, distribuição de renda (…)”, aponta.
“Programa de doenças, (a crise de) esquistossomose no Norte do estado, ele vai atacar como médico, evidenciando esse problema muito grande na década de 1970”, prossegue o pesquisador.
Em março de 1979, o político de Vila Velha tomou posse como deputado federal, sendo reeleito em 1982, pelo já reformulado PMDB. Era o processo de reabertura política e de discussão de anistia na praça, com um MDB já disputando espaço com outros partidos.
Diretas Já e SUS
O médico e deputado federal foi liderança significativa na campanha das Diretas Já, a abertura política e outros temas no ES. “No século 20 é imprescindível tratar da família Mauro, Saturnino e Max. Uma atuação política que vem da ditadura militar e do processo de redemocratização”, aponta Amarildo Lemos.
“Como médico participou das conversas, (nas entrevistas) era enfático em dizer como ele participou como deputado federal e depois contribuindo politicamente para a construção desse Sistema Único de Saúde. Muito conectado com essa ideia da universalização do acesso à saúde e o SUS tem essa essência, isso estava na agenda do MDB”, cita o pesquisador.
“Foi um ator central no ES para o retorno da democracia. (…) o MDB que congregava aqui no ES essas forças políticas. Outras instituições, que não eram partidárias, como a Igreja Católica, tinham uma expressão muito forte. Até 1979 você tem o Max Mauro como uma das maiores lideranças aqui em defesa, dentro do Parlamento capixaba e fora dele, da democracia. Você vê nos discursos, no próprio registro que a polícia política fazia dele, reconhecendo, vendo nela uma ameaça ao regime (…). Ao longo da década de 1980 ele também exerceu uma expressão muito forte já começando a dividir espaço com outras forças políticas”, analisa o professor.
Governo estadual
Com a reabertura democrática virando fato, Max Mauro disputou e venceu a eleição para governador em 1986, tomando posse em fevereiro de 1987. Max foi eleito prometendo desenvolvimento social. Outra promessa de campanha e bandeira do governo era a maior autonomia das prefeituras com a municipalização de serviços. Era um período marcado pela alta inflação e, portanto, a sociedade perdia poder de compra.
Max não teve maioria na Assembleia e enfrentou grande dificuldade para aprovar seus projetos. O rompimento de Max com Gerson Camata amplificou a oposição. Max fez sucessor: Albuíno Cunha de Azeredo foi eleito governador em 1990, mas pelo PDT. A escolha de Max pelo seu secretário fracionou um PMDB local já em crise, e o grupo “maxista” migrou em peso para o partido de Leonel Brizola.
O governo Max Mauro só foi objeto de estudo para o mestrado de Amarildo Lemos, porque a pesquisa partiu da preocupação em responder questões da relação Executivo-Legislativo do governo de Albuíno Azeredo. Daí um passo atrás para traçar a trajetória política da liderança maior daquele grupo.
Após aceitar sem barulho e com pragmatismo a não indicação do PMDB em 1982 para o governo estadual, a escolha dele em 1986 se deu sem maiores dificuldades.
“Ele consegue um compromisso e em 1986 ele não tinha condições de oposição dentro do partido. Quando ele assume o governo, você pode pensar que pode dominar o orçamento, dizer o que vai fazer, o ônus e o bônus do processo político fica com o chefe do Executivo… Mas sabemos que existe uma necessidade de aprovação do orçamento e das decisões de governo pelo Parlamento”, relembra o pesquisador.
Já no governo, conviveria com uma oposição muito forte, inclusive dentro do próprio partido. “Com um eleitorado mais conectado com a esquerda, vai ter muita dificuldade para governar. Vai fazer um esforço para tirar a máquina pública daquela prática clientelista, de uma máquina pública dominada. (…) ele tem a marca de trazer ideias mais republicanas e ele tem ali diante da Assembleia obstáculos muito fortes, mas ele vai buscando dialogar com setores mais populares e tentando se esquivar dos grupos da política tradicional, conectados ao regime militar, de dentro do próprio partido dele”, conta Lemos.
Ales combativa
O atual prefeito de Barra de São Francisco e ex-deputado estadual Enivaldo dos Anjos foi uma das principais lideranças do Partido da Frente Liberal (PFL) na Ales, oposição à gestão maxista. Enivaldo avalia aquele governo como respeitado por ter sido sério.
“O governo dele foi o primeiro de oposição no Estado, depois da reabertura democrática do País, teve importância por este aspecto. A relação com o Legislativo era, na média, boa, mas tinha oposição dura e vigilante. O governador era respeitado por ser um governo sério, mas combatido por tratar a oposição à tratorada na Ales. (…) O legado foi ter permitido, às duras penas, Albuíno ter sido candidato e eleito pelo apoio dos prefeitos, e com isto ter saído do governo com mais de 80% de aprovação”, opina o prefeito.
Enivaldo dos Anjos resgata uma curiosidade da época: a oposição a Max teria segurado o projeto do Transcol na Ales até o governador aceitar colocar um trabalhador no conselho tarifário.
Últimas urnas
Sem mandato em 1991, voltou a exercer a profissão no então Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps), aposentando em 1995. Max Mauro voltou para a disputa política, agora pelo PTB, tentando o governo estadual em 1994.
Não retornando ao Palácio Anchieta, em 1998 foi eleito deputado federal mais uma vez. O mandato de 1999-2003 seria o último da carreira política de Max Mauro. Em 2002 e em 2006 disputou, mas sem êxito, respectivamente, o governo do Estado e uma vaga para o Senado Federal.
Mandatos
1971-1974: prefeito de Vila Velha
1975-1979: deputado estadual
1979-1983: deputado federal
1983-1987: deputado federal
1987-1991: governador
1999-2003: deputado federal – Fonte ales