Comissão debate acesso a recursos para a cultura no ES

A proposta da presidente do colegiado, deputada Iriny Lopes, é fazer um projeto itinerante, ouvindo os agentes de cultura do estado.

Fazer com que os recursos destinados à cultura pelo governo federal cheguem aos atores culturais do Estado. Esse é o objetivo da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa (Ales) que na quinta (16) e sexta-feira (17) realizou reuniões nos municípios de Linhares e São Mateus, respectivamente. A proposta da presidente do colegiado, deputada Iriny Lopes (PT/ES), é fazer um projeto itinerante, ouvindo os agentes de cultura do estado.

“Nós já estávamos com a intenção de sair com a Comissão de Cultura de dentro da Assembleia Legislativa e rodar todo o estado do Espírito Santo. Porque nós temos uma demanda muito grande. São muitas modificações nas legislações, tanto na estadual como na federal. Nós temos um volume de recursos que nunca na história do Brasil foi colocado à disposição da cultura. Mas os fazedores de cultura não têm conhecimento disso”, explicou a parlamentar.

“O que falta é informação e falta também, em parte das prefeituras, engajamento. O que as prefeituras e os fazedores de cultura precisam saber é que agora existem recursos. A prefeitura envia o projeto e os recursos são liberados para formação, compra de equipamentos, instrumentos, roupas e para a realização de eventos, onde você fará uma aproximação entre a cultura local e o morador local”, completou a petista.

Linhares

Quem provocou a reunião realizada na Câmara Municipal de Linhares foi o vereador do município Professor Antônio César (PV). “Muitas questões o mandato de vereador não dá conta de responder, então a gente procurou a Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa, para que nos ajudasse a dar encaminhamento a algumas demandas”, ressaltou.

O vereador destacou que existem diferenças culturais regionais no estado que precisam ser levadas em conta. “A gente quer mostrar que existe uma cultura pulsante dessas comunidades tradicionais que precisam ser vistas, que têm necessidades muito particulares, que são diferentes do sul do estado, da Região Metropolitana e que precisam ser ouvidas”, pontuou.

Saberes populares

A manutenção do conhecimento de geração para geração é um tema que preocupa o professor. “Uma das principais demandas é a falta de apoio institucional para a manutenção dos mestres desses saberes populares. Então, conforme eles vão desaparecendo, por conta da idade, acabam não deixando herdeiros. Então é preciso uma política que garanta a formação de novos mestres e que esses tenham tempo para se dedicar aos seus afazeres e a difundir essa cultura para as gerações mais jovens” destacou.

“A questão do transporte que gere uma integração, para que os membros das comunidade de Degredo possam ir a Povoação, possam ir a Aracruz, a Serra, para trocar experiências, construindo uma rede. Então existe essa dificuldade muito grande para se locomover, bem como a questão do financiamento de suas festas populares. Então eles encontram muita dificuldade em dar vazão, em fazer com que o poder público financie a Festa do Congo, a Festa de São Benedito, por exemplo, que são duas muito fortes aqui em Linhares”, concluiu Antônio César.

Representante da comunidade de Povoação, Débora Belo concorda com o vereador. “A gente tem a nossa associação Folclórica de Povoação, e precisamos que o poder público nos ajude por meio de financiamentos de projetos sociais. Nós temos bandas de congo, folias de reis, trabalhos sociais, como as bandas de congo mirim, e a gente precisa conseguir crescer para desenvolver um trabalho melhor com essas crianças, por exemplo”, avaliou.

São Mateus

Já a reunião em São Mateus foi realizada no campus da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), do município, nesta sexta-feira. A coordenadora do Escritório do Ministério da Cultura (Minc) no Espírito Santo, Célia Tavares, participou dos dois encontros e falou sobre o trabalho que está sendo desenvolvido pelo ministério. 

“Esse escritório tem como objetivo fazer com que o ministério se aproxime das comunidades. E é o que a Comissão de Cultura da Assembleia está fazendo. Quando faz reuniões itinerantes como essas em São Mateus e em Linhares, está se aproximando do povo. Nós estamos em período de conferências no Ministério da Cultura e o nosso tema é justamente democracia e direito à cultura”, disse.

A criação de comitês regionais de cultura também foi assunto na reunião. “Nós vamos ter aqui no Espírito Santo três regiões prioritárias e São Mateus é uma delas. O comitê será gerido por uma organização da sociedade civil e terá como objetivo a articulação, a formação e, junto com os agentes de cultura, fazer com que o direito à cultura chegue a todos, principalmente àqueles em situação de maior vulnerabilidade”, completou a convidada.

Sapê do Norte

A coordenadora da educação escolar da Comissão Quilombola do Sapê do Norte, Olindina Serafim Nascimento, cobra a criação de políticas públicas que valorizem a cultura local. O território engloba 32 comunidades que atuam nas mais variadas manifestações artísticas tradicionais da cultura afro.

“A nossa motivação foi para que nós possamos compreender, mas principalmente trazer essa instância da cultura para dentro do território do Sapê do Norte, para que os fazedores de cultura do Sapê do Norte pudessem ter a oportunidade de dialogar com a comissão e também ter conhecimento do que há de acesso para editais, para políticas públicas para cultura”, afirmou.

“O território do Sapê do Norte contempla 32 comunidades e todas elas pulsam esse saber cultural, seja da dança, principalmente do jongo, do congo, do ticumbi, o reis de boi, as ladainhas, são as manifestações culturais que pulsam no território do Sapê do Norte, são saberes culturais que vêm de nossas ancestralidades”, comentou a coordenadora.

“Se nós tivéssemos uma política pública voltada para o território do Sapê do Norte no que tange à cultura, e que esses fazedores de cultura pudessem acessar essas políticas públicas, com certeza a nossa cultura, que é o berço da cultura capixaba, estaria muito mais desenvolvida, estaria sendo muito mais vista e principalmente, os próprios fazedores de cultura estariam em condições melhores de vida e com a cultura mais enriquecida”, finalizou Olindina.

Conclusão dos trabalhos

Na conclusão dos trabalhos, a presidente do colegiado avaliou que a comissão deverá se reunir com o Poder Executivo do Estado e dos municípios para dialogar sobre captação e distribuição de recursos. “Nós vamos ter que fazer uma reunião bastante franca, olho no olho, com as prefeituras e o governo estadual. O problema é que a máquina pública, especialmente o ente federado município, não se preparou para receber e dar vazão com rapidez a esse volume de recursos, que é o que o fazedor de cultura precisa”, opinou Iriny.

“Precisa ter planejamento para captação, distribuição, uso e fiscalização dos recursos destinados à cultura, que, volto a dizer, são os maiores na história do país. E aqui no Espírito Santo eu acho que nunca teve tanto recurso para cultura, então, acho que vamos mesmo ter uma conversa bem séria com os Executivos, no sentido de acelerar essa organização e um modelo de gestão que seja confiável, transparente, democrático e que chegue até as pessoas”, concluiu.  FONTE E FOTO ALES